Museu da Ci�ncia - Universidade de Coimbra

MATERNIDADE - UMA FIGURA IMPONENTE

A primazia do relacionamento de uma mulher com seus filhos na sociedade do Congo era uma evidência. Durante o século XIX, os talentosos escultores do Congo produziram imponentes figuras femininas em representações que, numa primeira abordagem, transportam-nos para o universo de “mãe e filho”. Porém, estas esculturas materializam o conceito liderança exercida por estas mulheres. São, portanto, formas escultóricas em que os corpos femininos passaram a estar integralmente ligados a ideias de poder.

Oferecida ao Museu de História Natural da Universidade de Coimbra em 1916, por José Pinto Meira, antigo ex-aluno desta mesma universidade que terá exercido funções de capitão, médico e comandante militar em Maquela do Zombo (Angola), este excecional exemplar de uma maternidade representa a esposa de um chefe do grupo étnico Yombe e simboliza a paz e o garante de uma descendência numerosa. A postura altiva evidencia a tranquilidade e serenidade desta mulher que exibe o filho sobre as pernas cruzadas que expressam a forma mais nobre de se sentar no trono, atitude adotada na corte dos antigos reis do Congo.

Dado curioso é a prática exercida por muitos colecionadores europeus que frequentemente poliam estas esculturas, removendo assim camadas superficiais de mpemba e tukula, elementos que integram estas maternidades numa clara associação com os ossos dos ancestrais (mpemba, pó branco) e o sangue (tukula, pó vermelho). Ainda assim, restam algumas peças onde não foi exercida esta prática, como seja este exemplar do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra que mantém uma densa camada destes dois pigmentos. Pendurado em volta do pescoço, destaca-se um cordão que exibe um pingente composto por duas garras de leopardo, amuleto que igualmente nos remete para o seu poder e liderança. Outro aspeto altamente marcante nesta figura são as escarificações que exibe no seu corpo, sinais corporais feitos para tornar as mulheres mais desejáveis e imponentes.

Por meio dessas criações, os artistas do Congo enfatizaram a ideia dos corpos das mulheres enquanto recipientes para a gestação das gerações futuras.

Maternidade
ANT.Ang.1087

 

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